Para quem não sabe ou não sabia, como eu, Setembro Amarelo é o mês de prevenção ao suicídio, sendo que dia 10 é o dia mundial da sua prevenção. E já que o assunto é um tabu de difícil abordagem, vou partilhar a minha experiência com o frasco de veneno. E que ninguém comece a cantar “ Lá em cima do piano tem um copo de veneno…”, por favor!
Há cerca de duas décadas venho, de tempos em tempos, lidando com o desejo de morrer, ou melhor, o pensamento de que devo me matar. Tais ideias, ainda que se iniciem a partir de uma tristeza ou angústia difusa, delineiam somente uma ilusão de paz, uma vez que aumentam ainda mais a angústia ou tristeza que as originam.
Certa vez, por volta dos 25 anos, após uma briga, que foi a última gota que fez a taça da minha aflição interior transbordar, peguei o frasco de chumbinho do armário. Fora o fator verdadeiramente dramático da situação, lembro-me do desenrolar das ações como em uma cena de filme. Saí do quarto, fui a cozinha, levei uma cadeira até o armário e peguei o veneno. Minha vó me seguiu até a sala e eu estava no sofá com o frasco tenebroso na mão.
Embora em minha memória a cena pareça rodar em câmara lenta, acredito que tenha sido tudo muito rápido. Minha vózinha, que é uma pessoa mais dinâmica e barulhenta, falava baixinho comigo dizendo: “ Não, Moniquinha.” enquanto tentava tirar o frasco de chumbinho da minha mão. Olhei para frente, com uma desesperada esperança de salvação, e vi minha gata com os olhos esbugalhados me encarando. Acabei cedendo aos apelos da minha vó e ao olhar espantado da gata.
Não me senti muito melhor depois disso e precisei fazer terapia, mas a ideia suicida ainda ronda meus pensamentos. Atualmente me trato com fluoxetina e faço terapia pela segunda vez e não sei aonde vou chegar quanto ao desejo suicida, mas espero ao menos aprender a não mais me identificar com ele até a derradeira submissão.
Bom, como descobri o Setembro Amarelo somente em seus últimos dias, vou continuar uma pequena série de posts sobre suicídio, algo que talvez nenhum de nós jamais entenda, mas sobre o qual todos precisamos conversar.
Até, meus queridos!